Avesso
a protocolos, o presidente Jair Bolsonaro quebrou uma das regras de ouro da
diplomacia nesta quinta-feira, 11, ao afirmar que seu filho Eduardo, deputado federal por São Paulo, “está no radar”
para assumir a embaixada do Brasil em Washington, nos Estados Unidos.O
nome do candidato do presidente da República, escolhido em consulta com o
Itamaraty, jamais é divulgado antes de o governo receber o “sim” do país onde o
embaixador atuará – o chamado agrément. Depois, ainda se faz necessária a
sabatina do indicado pela Comissão de Relações Exteriores do Senado e também a
aprovação de seu nome pelo plenário da Casa. Esses ritos são cumpridos à risca
pelos governos, sempre ciosos em não causar situações de constrangimento e
atritos diplomáticos. É
bastante improvável que, mesmo com essa gafe de Bolsonaro pai, o filho
conhecido como “03” perca o posto em Washington por causa dos rituais
diplomáticos. Na visita do líder brasileiro ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em
março passado, Eduardo Bolsonaro recebeu um tratamento diferenciado. Primeiro,
entrou na reunião privada de seu pai com Trump no Salão Oval – honraria
subtraída do chanceler Ernesto Araújo. Depois, foi elogiado pelo americano
diante da imprensa, na entrevista coletiva no Jardim das Rosas. Os três se
encontraram novamente na reunião de cúpula do G20 em Osaka, no Japão.“Está
no meu radar, sim. Existe uma possibilidade. Ele daria conta do recado
perfeitamente”, afirmou à imprensa, ao destacar que seu filho fala inglês e
espanhol e é amigo dos filhos do presidente americano, com se esses fossem os
únicos requisitos para um bom embaixador do Brasil em Washington. “Imagine
se o filho do (Mauricio) Macri como embaixador da Argentina no Brasil.
Obviamente, o tratamento seria diferente do de outro embaixador normal”,
comparou, ao final da cerimônia de posse do diretor da Agência Brasileira de
Inteligência, Alexandre Ramagem.O
presidente afirmou que a decisão caberá a seu filho, que teria de renunciar a
seu mandato na Câmara dos Deputados para seguir para os Estados Unidos A
sinalização, porém, fere completamente o protocolo sobre a nomeação de
embaixadores. Também atropela os planos do Itamaraty, cujo candidato era o
diplomata Nestor Forster Júnior,
responsável por apresentar Ernesto Araújo ao guru Olavo de Carvalho.
Forster foi promovido a embaixador em junho passado e já atua na embaixada em
Washington como ministro-conselheiro.Eduardo
Bolsonaro já havia viajado várias vezes aos Estados Unidos em busca de apoio ao
governo de seu pai na ala ultraconservadora americana. Um de seus contatos mais
próximos é Steve Bannon, ex-assessor especial que Trump demitiu da Casa
Branca. Outro nome é o guru ideológico da atual gestão em Brasília, Olavo de Carvalho.
Durante a visita do presidente a Washington, ambos foram convidados para jantar
na embaixada brasileira.O
posto de embaixador do Brasil em Washington é o mais importante da diplomacia
brasileira no exterior. Há mais de 50 anos, porém, as designações têm recaído a
diplomatas no topo da carreira com experiência comprovada em negociações
políticas e econômicas. Sete deles foram ministros de Estado antes ou depois da
passagem por Washington. O último não diplomata a assumir o posto foi o
ex-governador da Bahia Juracy Magalhães, entre 1966 e 1967.Entre
os nomes que passaram pela embaixada em Washington estão Marcílio Marques
Moreira, Paulo Tarso Flecha de Lima, Vasco Leitão da Cunha, Rubens Ricupero,
Rubens Barbosa, Antonio Patriota, Mauro Vieira e Luiz Fernando Figueiredo.O
último embaixador do Brasil em Washington foi Sérgio Amaral, diplomata de carreira que foi porta-voz do
Palácio do Planalto e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior na gestão de Fernando Henrique Cardoso e chefe das representações do
Brasil em Londres e Paris. Amaral permaneceu três anos no posto, que deixou
depois da visita de Bolsonaro a Washington.
Fonte:
MSN
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