O que mais falar sobre esta doença que nos deixa impotentes e paralisados? Como sensibilizar a comunidade para seguir novas normas de comportamentos preconizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS)? Nós brasileiros, acredito que nós baianos mais intensamente, temos a cultura do ‘Toque’. Foi-nos dado o conhecimento que tocar outrem é libertador, desde o nascimento e pela a vida afora, pois liberamos afeto, carinho e fundamentalmente Amor, com A maiúsculo. E ao vermos um amigo, um familiar é espontâneo a ida ao encontro de braços abertos para sentir e transmitir calor humano e amor.
A Pandemia veio mudar a cultura do toque e para isto trouxe uma questão jurídica bem contundente: a determinação de normas, leis que legalizam o ‘fazer’, como agir, como comportar-se no novo cotidiano que nos apresenta. E estas normas devem ser seguidas com rigor, trazendo sanções sérias e graves para àqueles que não cumprirem, não só legais, mas sociais, emocionais. Até então neste século, nunca tinha ocorrido algo igual. Houve uma ruptura dos costumes, e o poder Executivo veio normatizar esta questão mediante leis, decretos, pois nunca tivemos uma situação semelhante antes vivenciada.
Em nosso município um mês atrás em 17/6 contávamos com 630 casos confirmados, hoje se vocês observarem os Boletins Epidemiológicos 17/7 o número de infectados subiu para 2100. Mais de trezentos por cento de aumento. Fiquem em casa! O número de óbitos por residência em 17/6 foi de 22 pessoas, hoje contamos com 51 pessoas que perderam suas vidas. Ressaltando que o óbito por residência é aquele de moradores de Jequié, residentes aqui na cidade. E quando morre um familiar na sua maioria das vezes, a vida fica difícil de dar continuidade com a saudade imensa que invade os familiares, colegas e amigos. Um enterro solitário, sem o adeus dos que o amam.
Fiquem em casa! Jovens, idosos, crianças e adolescentes estão em situação de igualdade, situação de risco, então Fiquem em casa! A Covid-19 vai ao encontro de todas as idades, todas as classes sociais, raças, sem pestanejar: não cumpriu as normas do isolamento social, de usar a máscara, pode ser contaminado e muitas vezes obrigado a ficar no hospital. Outras vezes já no hospital ser transferido para a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo).
Aí é sofrimento para o paciente, para a família, amigos, e não se esqueçam: para quem está à frente do combate ao Covid-19 também, pois os cuidados precisam ser intensos 24 horas por dia e deixam os profissionais de saúde exaustos e temerosos pelos seus familiares e entes queridos.
Seis meses atrás se alguém nos falasse tão barbaridade, poderíamos pensar como os antigos: não falem assim, pois vão pensar que você está ‘variando’, isto nunca vai acontecer. Só que a realidade é cruel, e atinge a todos sem distinção.
Trabalhei mais de trinta e cinco anos em um hospital, como assistente social, atuei com muita apreensão o surto da Dengue que foi desastroso em nosso município, vivenciei acidentes automobilísticos e situações dolorosas para os familiares e também para os que trabalham com os pacientes e convivem com os familiares. Hoje aposentada, ouço as colegas queridas que me ligam para contextualizar a Pandemia e confesso para vocês, estão arrasadas com o que está ocorrendo, choram a perda daquele indivíduo que nunca viram antes, mas sabem que é um pai, um filho, um ente querido que vai deixar um vazio insuportável para aquela família.
Os profissionais de saúde, (só um parêntese) quando pensarem nos profissionais de saúde lembrem-se sempre que atuam assistentes sociais, fisioterapeutas que muitas vezes não dormem como os colegas médicos/as e enfermeiros/as; os maqueiros, o pessoal do setor de higienização, da alimentação/copa, pois as nutricionistas elaboram as refeições de acordo com as enfermidades de cada paciente, muitos pacientes com Covid têm co-morbidades como diabetes, hipertensão arterial. O pessoal da lavanderia que noite e dia funciona para não faltar lençóis e todo o aparato hospitalar necessário. Sabe-se que tudo isso sob a coordenação de alguém que pode ficar em alerta por dias na coordenação do estabelecimento e seu serviço administrativo.
É um vírus que se evita com água e sabão. Lavando suas mãos, lavando como sempre deveria ser: os legumes trazidos da feira livre; não entrando em casa com os sapatos que vieram da rua, deixando-os do lado de fora da casa, lavando varandas e garagens com água e sabão e se puder água sanitária. Vou enumerar alguns cuidados essenciais para evitar a proliferação do vírus:
Lavar as mãos sempre com água e sabão, não se esquecer de deixar a espuma agir por 20 segundos. Beba bastante água o vírus gosta da boca seca, a conserve sempre úmida;
Ao receber encomendas pelos Correios use máscara e só a retire depois de higienizar o produto recebido; o mesmo cuidado ao consumir aquele alimento que solicitou para comer em casa, se receber com o moto táxi, higienize a caixa com o alimento seja pizza, hambúrguer, comida o que for;
A ida ao supermercado ou local no qual se compra alimentos, deve ser com máscara, se puder vá de luvas, chapéu ou boné seja rápido, faça sua lista de compra antes, o tempo agora é muito precioso supermercado e feira se compra o extremamente necessário, não é mais passeio. E os produtos trazidos têm que ser higienizados, as frutas e verduras em bacias ou vasilhames grandes com água e hipoclorito. Chegou a casa: tome banho, coloque suas roupas ao sol por um dia ou as lave;
Se volte mais para o seu lar, mesmo pequenino, mesmo que tenha conflitos em casa, quem não os têm? Busque e crie atividades em sua casa. Por enquanto não saia para bares, ruas movimentadas, nem salas de espera de consultórios cheios. Também não é tempo de convidar amigos, ou mesmo recebê-los para jantar, almoço, churrasco ou qualquer outra reunião com muitas pessoas, explique sobre a pandemia e que o seu cuidado é por eles também.
As escrituras nos mostram que todo sofrimento tem princípio, meio e fim, então vai passar, mas para que isto aconteça precisamos nos manter em casa, pensar no coletivo. Vamos exercitar a empatia e seguir o poeta que nos diz “Para não ter medo que este tempo vai passar... Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs... Fé na vida, Fé no homem, fé no que virá! Nós podemos tudo... Gonzaguinha: ‘Nunca pare de sonhar’”.
Por amor fiquem em casa!
Mª Aparecida Cabral Tavares de Santana
é Assistente Social - Drª em Saúde Pública ISC/UFBA
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